As férias
escolares já estão acabando. Dessa vez passaram rápido demais; duraram menos do
que os segundos que o filho caçula precisa pra cair, no intervalo entre duas piscadas. Ontem à noite comecei o trabalho de etiquetar lápis, canetas, giz de
cera. Um por um, pede a escola sem perdoar minha caligrafia capenga. O pior
ainda não comecei que será encapar uma caixa. Uma caixa só, poxa. Nem posso me
queixar dessa vida de boemia. Minha mãe encapava cadernos e livros todos os
anos, de três filhas.
Tive de fazer o serviço
às escondidas, depois que a menina foi dormir. De dia, quando ameacei começar a
jornada, ela se assanhou toda, tão feliz que está de estrear na escola. Os
olhos brilham frente ao baldinho de areia, dos mais simples que se possa
encontrar nas papelarias do centro. “E o estojo de princesas, é meu?” pergunta
sem se perceber repetitiva. Absolutamente tudo naquela sacola reluz a ouro pra
ela. Etiquetas vazias, inclusive.
A escola fica em
frente à nossa casa, o que para as crianças é um privilégio. Todos os dias, durante
as férias, ela olhava pela sacada para acompanhar a reforma do playground. Afinal,
sonha brincar com o baldinho roxo na areia. Ela quer tirar os sapatos e afundar
os dedos gordinhos no colchão de grãos microscópicos de onde o vidraceiro tira
vidro. Já a menina tira diversão pura, cristalina. Não dá para competir.
Verdade seja
dita, talvez eu estivesse trabalhando fora caso o destino houvesse seguido
outro caminho. Ano passado sinalizou que aconteceria, mas ainda não foi hora.
Quando tiver de ser, será. Ah, se além de
falar a escrita suspirasse! Far-me-ia um grande favor. Em compensação, terei a
oportunidade de vê-la entrar pelo portão da Rua Uruguaiana calçando os tênis de
cano alto em seu primeiro dia de aula de todos os tempos. Uma cena que se
perderá na memória de um senhor chamado tempo, mas não na minha.
Entre um parágrafo
e outro desse texto, faço intervalos pra brincar de esconde-esconde com a
menina. Ela quer emendar pega-pega, mas isso já não posso antes de preparar nosso
almoço. Logo o bebê acorda e o mais velho termina de derrotar o time do vídeo
game em uma partida de futebol que não pode, virtualmente, ir para prorrogação.
Peço licença e saio. Quem sabe volte depois. A tarde sempre promete.
Mais um belo relato. Dá pra imaginar tudo que você descreveu... Obrigado por compartilhar conosco o momento de vocês.
ResponderExcluirObrigada, Rodrigo! A menina do texto tornou simplesmente irresistível descrever esse finalzinho de férias. Abraço ☺
ExcluirCenas da vida de uma mulher que escolheu ser mãe... Um dia vai sentir saudades, e seus filhos vão se lembrar disso com ternura!
ResponderExcluirEscolha da qual não me arrependo apesar de jamais me sentir preparada o bastante! No entanto, tenho-a como principal e melhor exemplo de mãe em minha vida, o que me impulsiona a amá-los cada dia mais! Bjs
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