segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sapos




Era uma tarde de trabalho pesado no jardim, quando nosso vizinho de cerca resolveu nos presentear com uma cuba de vidro pontuada por dezenas de girinos, alguns tão minúsculos que mal se diferenciavam dos resíduos amorfos da água. Digamos que a generosidade do velho David tenha sido um tanto quanto inesperada e nós um tanto quanto matutos, pois ficamos plantados ao lado da cerca feitos duas estacas, olhando abestalhados para a cuba.
Enquanto nada se passava do lado de cá, nosso vizinho já voltava do lado de lá, trazendo nas mãos uma planta original do lago onde os bebês flagelados foram desovados, alegando que assim se sentiriam em casa. Foi dura a responsabilidade incutida à pobre planta, já que o jardim do nosso vizinho não é qualquer meia dúzia de gérberas. Aquele é um recanto digno de Hespérides, com cores vibrantes e formas obtusas que minha mente não se esquecerá tão fácil.
Agora é que são elas... O que fazer com esses projetos de sapos? Por hora não havia muito para se fazer além de assisti-los agitar nervosamente a cauda na água. Mas, e depois? Adotá-los seria uma opção pertinente?
Imaginei nossa família saindo nas fotos com um sapo de estimação. Vi o sapo crescendo, perdendo a cauda, desenvolvendo as patas traseiras e dianteiras, ganhando proporções de bicho, saindo da água, entrando em casa.
O menino gritando do quintal: “Olha, mamãe, o sapo já tem perninhas!”
E, tempos depois, de dentro da casa: “Ele gostou do nosso sofá!”
O lado bom é que sapos tendem a ser mais econômicos do que cachorros e gatos. Não demandam banhos, passeios, tosa, e tudo o mais. Seriam os bichos ideais considerando o quadro de rinite alérgica da família Penteado Mendes.
Voltando à realidade, bem que tentamos, mas não conseguimos transpor o estranhamento inicial aos girinos. Despejamos o conteúdo da cuba na terra fresca e acompanhamos a água ser sorvida pelo solo juntamente com as vidas que eclodiram dela. Que o bom e velho David não escute essa minha confissão. E antes que nos julguem e condenem em primeira instância, devo acrescentar: Se já engolimos tantos sapos no decorrer da vida, para quê criar outros tantos no próprio quintal? A não ser que os sapos de casa sejam mais domesticáveis, nada me convencerá do contrário.

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